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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Preço alto do preconceito

 A história aqui não é das mais tristes. Não pra quem lê.
Quem vos escreve, apesar de saber que há no mundo problemas maiores, resolveu contar aqui o que incomoda.
Sou jovem, 27 anos. Tenho uma família que me ama, um emprego onde me sinto feliz, alguns amigos sinceros e 37 kg a mais.
A primeira vez que o sobrepeso me incomodou foi a aproximadamente 18 anos atrás. Acontecia as primeiras aulas de educação física da minha vida. A frase que ouvi e que até hoje martela em mim torturando a minha carne foi a seguinte: "Não escolhe essa menina para o time, ela é gorda e não vai aguentar correr."
E foi aí que eu dei início a uma vida de auto preconceito. Nesse dia eu comecei a me condenar pela minha condição física.
O objetivo desse post não é fazer drama e nem me fazer de coitadinha. Quero com esse texto apoiar quem se encontra na mesma situação, além de mostrar aos amigos de obesos como lidar conosco.
A compulsão por comida independe de força de vontade. Quem sofre de compulsão alimentícia certamente já ouviu coisas do tipo "tem que ter força de vontade", "tem que fazer exercícios", "todo gordo é gordo por que quer", "não adianta chorar". Gente. PELO AMOR DE DEUS... Isso não é tão fácil. É uma doença e é grave. Além de mexer com as estruturas físicas, detona com a auto estima causando uma depressão  significativa. Já li  relatos de obesos que se mataram após ler piadinhas preconceituosas. Cuidado, muito cuidado com as brincadeiras e com as frases ditas sem pensar.
Palavras como pançuda,gordinha,pelota, bolinha, são extremamente ofensivas e chegam a doer.
Frases do tipo: "A menina é bem mais gorda que você." machucam de uma forma que vocês nem podem imaginar.
Para o comércio, obeso não pode ser bonito. Peça íntima, moda praia, jeans e vestuário em geral é um CAOS pra quem precisa de numerações maiores. 90% das lojas aqui da minha cidade só vendem até o n° 46.
Comecei a  luta contra a obesidade aos 10 anos de idade. E não consigo obter resultados e confesso que isso não tem sido nada fácil.
O padrão de beleza exclui quem não respeita suas medidas. Com tantas dificuldades e tantos PRÉconceitos criei uma barreira entre meu psicológico e meu físico. Não consigo me aceitar como sou, não consigo mudar e tenho vivido uma infelicidade que só aumenta.
Infelizmente as últimas piadinhas que escutei feriram profundamente.  Passo dias sem comer e quando como vou ao banheiro provocar vômito para expulsar o alimento. Se após me alimentar eu não seguir esse ritual, a sensação de culpa me invade e a depressão me faz explodir em lágrimas.
O apoio psicológico dos amigos é importantíssimo.
Namorar gorda é uma vergonha pra muitos rapazes. O medo dessa rejeição masculina está me prendendo em casa a meses. Não consigo mais me olhar no espelho. Por isso tirei todos aqui do meu quarto.
Mas enfim... feito o desabafo, eu imploro: Jamais façam piadinhas com seus amigos. Nem todos se aceitam. É complicado demais pra nós. Precisamos de apoio e não de piadas e críticas destrutivas.
Vou começar a minha luta  em busca da cirurgia bariátrica e tentar resgatar a alegria que eu perdi desde a primeira piadinha  que me discriminava por ser obesa.